Facetas do terceiro princípio (Sat, Saturno, Satã)
OM TAT SAT. A Unidade Suprema é
composta de três princípios. O prefixo SAT (hindu), que em sânscrito significa
“existente, real, essência” aparece também em “Saturno”, que na Árvore da Vida
refere-se à terceira esfera que tem o nome Binah, a Compreensão. Binah, o
terceiro princípio da Unidade, é a vastidão da existência, o Grande Mar cósmico. A imagem de Binah é de uma Matrona, a Mãe obscura, sua cor é o
negro, o que remete ao próprio universo (espaço) e expõe a faceta feminina
(passiva, magnética, gravitacional) dessa manifestação (ou saturação).
Binah (Saturno) é como a própria
“Manifestação” pode ser entendida, ela organiza (satura) o sopro caótico do
segundo princípio (Chockmah). É entropia, organização, formação. É a
consequência da Força; ou o próprio tempo em ação: Uma idéia (1), colocada em prática
(2) começa a sofrer os efeitos do tempo
(3). Eis a trindade viva. Saturno rege toda formação através do tempo,
portanto, é Deus tanto da Vida como da Morte. Algo vivo, ao mesmo tempo que
nasce, começa a morrer. Eis a ação do tempo. Binah se opõe ao princípio caótico
que tudo permeia (Chockmah) e antecede o estabelecimento (quarto princípio), a
quarta esfera de nome Chesed (Misericórdia/Júpiter), pois não há prosperidade
sem a conquista do tempo ou das qualidades saturninas. O Deus grego Cronos
(Saturno para os Romanos) torna-se o senhor do céu castrando seu pai utilizando
uma foice. Nota-se que o símbolo que representa Saturno assemelha-se a própria foice que Cronos carrega.
O bode sente-se à vontade nos
cumes, saltitante. Uma montanha só pode ser escalada com disciplina e paciência
(qualidades capricornianas). O bode no topo da montanha é, portanto, a imagem
da conquista da sabedoria (Compreensão/Entendimento/Binah). É o princípio do
aprendizado, que só pode ser concluído mediante o passar do tempo. Diz-se que
lições aprendidas através de Saturno nunca são esquecidas. Perpetuidade é outra
particularidade capricorniana.
No tarô, tem-se o trunfo XV como
o Diabo. A correspondência na Árvore da Vida para a carta é o caminho que une
Tiphareth (Beleza) à Hod (Glória). Em suma, Tiphareth é a consciência humana,
Hod é a razão. Tal caminho representa a ligação de algo essencial e sutil à sua
própria racionalização. Nesse sentido, O Diabo (XV) é a força que começa a dar
forma a algo ainda puro, como uma idéia (bela/harmônica/funcional), colocando-a
em vias de sua materialização. No centro de sua cabeça de bode, o Diabo porta o
pentagrama invertido. O símbolo faz referência aos cinco elementos, e na forma
invertida mostra o elemento mais sutil, o espírito (akasha), no vértice mais
baixo. É o espírito colocado na posição mais baixa, o sutil aprisionado em
forma, o anjo caído. O tremendo esforço em trazer o sutil para o denso infere
também à grande disciplina e perseverança do bode que alcançou o cume da montanha
conquistando-a.
O trunfo XV tem um homem e uma
mulher acorrentados ao próprio Diabo. Anteriormente ficou explícito que
Saturno, como senhor do Tempo, é Deus tanto da vida como da morte. Isso remete
às qualidades capricornianas muito bem explicadas por Crowley: “A fórmula desta carta é então a completa
apreciação de todas as coisas existentes. Ele se regozija no áspero e no
estéril não menos do que no suave e no fértil. Todas as coisas o exaltam
igualmente. Ele representa a descoberta do êxtase em todo fenômeno, não importa
quão naturalmente repugnante; ele transcende todas as limitações; ele é Pã; ele
é Tudo”. Pã é outro Deus grego com características
saturninas/capricornianas, metade caprino e metade humano. Assim como Saturno
(Cronos), Pã é tanto o progenitor como o devorador das coisas, é a própria
personificação da Natureza, tem os dois pólos “acorrentados” em si mesmo (como
o Diabo do trunfo XV do Tarô).
A letra hebraica referente ao
mesmo caminho ou trunfo é a letra Ayin que significa olho. Ora, qual o processo
de percebermos as formas senão pelo olhar, pela visualização. Os contrastes do
claro e escuro, do novo e do velho, do sutil e do denso, são percebidos pelo
olhar; que é neutro em sua função, pois a luz que nos propicia a visão pode
também ofuscar, assim como a escuridão que oculta um tesouro valioso pode nos
deixar sem rumo.
O Diabo é o grande responsável
por dar forma às nossas vontades, formular nossos objetivos, por elaborar
nossas intenções, racionalizando-as tendo em meta sua materialização. Assim,
todo processo que tange o racional passa pelas mãos do Diabo. Todo plano é
diabólico.
O Diabo como símbolo do mal
“Eu me alimento nos nomes do Altíssimo. Eu
esmago-os em minhas mandíbulas eu evacuo do meu fundamento. Eu não temo o poder
do Pentagrama, pois sou o Mestre do Triângulo. Meu nome é trezentos e trinta e
três que é três vezes um”.
10º Æthyr - A Visão e a Voz - Liber 418
No século XVI, Edward
Kelley (médium) e John
Dee (matemático,
astrônomo, astrólogo, geógrafo e conselheiro particular da rainha Elizabeth I) desenvolveram um
sistema de invocações onde consta um ser denominado Choronzon. Posteriormente,
no início do século XX, Aleyster Crowley, estudando e praticando esse sistema
define Choronzon como representação da dispersão através do ego.
“Pensaste, Ó tolo que não existem fúria e dor que
não façam parte de mim ou qualquer inferno além deste meu espírito? Imagens,
imagens, imagens, todas descontroladas, todas irracionais. A malícia de
Chorozon não é a malicia de um ser; é a qualidade da malicia em si, pois ele
que se ostenta com o "Eu sou Eu" não tem ninguém e estes são os caídos
ante meu poder, os escravos do Cego que alardeou ser o Iluminado. Porque não há
centro, nada além da Dispersão”.
10º Æthyr - A Visão e a Voz - Liber 418
Essa ideía pode ser
entendida observando o próprio sistema filosófico proposto por Crowley que diz
que a Lei do novo aeon (época em que vivemos hoje) é regida por “Amor sob
Vontade”. Nesse sentido, uma tradução (hermética) conveniente para Amor pode
ser: “unir o que está separado”. Já a Vontade pode ser entendida como o “foco
em algum objetivo”. Dessa forma, um ato de desamor seria o mesmo
que “preservar o separado”, o “não unir-se”. É o próprio Ego, que tem o individualismo como parte de sua essência. Agora a perda de foco em algum objetivo, a
falta de (força de) Vontade se enquadra perfeitamente na ideia de Dispersão.
Assim é desvendado o âmago desse ser maldito que é a verdadeira representação
do mal, pois nota-se que a quebra do “Amor sob Vontade” dá-se pela “Dispersão
em si mesmo” que é a própria natureza de Choronzon.
Referências:
Aleyster Crowley - O Livro de Thoth
Aleyster Crowley - A Visão e a Voz - Liber 418
Dion Fortune - A Cabala Mística
Adriano Camargo Monteiro - Sistemagia
Sallie Nichols - Jung e o Tarô
Marc Macevers - Curso básico de Astrologia
yogadevi.org - Vocabulário Yoga-Sutra
Adriano Camargo Monteiro - Sistemagia
Sallie Nichols - Jung e o Tarô
Marc Macevers - Curso básico de Astrologia
yogadevi.org - Vocabulário Yoga-Sutra
ocultura.org.br